A Cada 10 Angolanos em idade activa, apenas 1 está empregado no mercado formal

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Num ano em que o número de desempregados cresceu em 543.851 para 5.465.291, a economia angolana gerou apenas 1.454 empregos formais, de acordo com cálculos do Expansão com base no relatório do Inquérito ao Emprego em Angola (IEA) do Instituto Nacional de Estatística (INE), relativo ao IV trimestre de 2023, que refere que a taxa de desemprego cresceu para 31,9%.

A taxa de desemprego agora apurada pelo INE coloca Angola no terceiro lugar dos países com a taxa de desemprego mais alta, de acordo com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), entre um total de 115 nações, apenas atrás do Sudão e da África do Sul. No entanto, para 2023 o FMI não contabilizou países como a Venezuela a Síria, a Nigéria ou a RD Congo.

Assim, depois de um ano sem publicar dados sobre o emprego, o INE divulgou na semana o relatório do IEA, num cenário que não é animador. Num ano em que entraram em idade activa de trabalho mais 554.179 pessoas, 98% destas pessoas entraram directamente para o desemprego, alargando para 5.465.291 o número de angolanos desempregados.

E se 98% entraram directamente para o desemprego, significa que os restantes 2% conseguiram encontrar um meio de subsistência. Só que destas 10.329 pessoas que responderam ao inquérito como tendo encontrado trabalho, apenas 1.154 conseguiram entrar na formalidade, enquanto os restantes 8.835 encontraram na informalidade, ou nos biscates, a solução para sobreviver.

Uma das causas deste cenário é o facto de a economia nacional continuar a crescer muito abaixo do crescimento da população, o que significa que a economia não está a gerar os empregos necessários para acolher as pessoas que ano após ano entram em idade activa de trabalho. Os dados públicos sobre o crescimento económico que constam no relatório de Fundamentação do Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2024, apontam para um crescimento de 0,4% no ano passado. Isto em comparação com o crescimento anual que, de acordo com o Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN) 2023-2027, tem sido de 3,1% ao ano, já que a taxa de fertilidade do País tem sido de 5,4 filhos por mulher.

Assim, quando a economia não gera empregos suficientes para a população, significa que o País está a gerar cada vez mais pobres e desigualdade. Actualmente, por cada 10 angolanos em idade activa para trabalhar, com idade igual ou superior a 15 anos, seis estão na informalidade, três estão desempregados e um tem emprego formal.

A economia continua a apresentar uma reduzida capacidade de gerar empregos quando o País tem um enorme potencial. O desemprego precisa de ser encarado, por parte da governação, como o inimigo público, ao lado da corrupção, da bajulação, do nepotismo. Afinal, sendo a população angolana maioritariamente jovem isto faz aumentar as tensões sociais, como a criminalidade e a falta de segurança generalizada que, aliás, já se sentem em Angola. E não apenas nas cidades”, admite ao Expansão o investigador económico Fernandes Wanda, coordenador do Centro de Investigação Social e Económica da Universidade Agostinho Neto.

E os números do desemprego são especialmente duros para os mais jovens, já que no final de 2023, das 5.924.182 pessoas em idade activa para trabalhar com idades entre os 15 e os 24 anos, apenas 2.473.215 estavam a trabalhar, equivalente a 42%, enquanto 3.450.967 estavam desempregados. Só para se ter uma ideia do impacto do desemprego nos jovens, note-se que em 2023 a população geral desempregada aumentou em 543.851 pessoas. Destes, 453.729 eram jovens com idades entre os 15 e os 24 anos, equivalente a 83% do número de pessoas que ficaram desempregados no último trimestre de 2023. Quanto à relação entre o trabalho informal e formal nesta faixa da população, o INE deixou de fornecer dados sobre esta relação, mas se for aplicada a regra dos 80% de informalidade relativa a toda a população empregada, isto significa que menos de 200 mil jovens tinham emprego formal no final do ano passado. Os restantes sobrevivem à conta dos biscates ou de trabalhos informais que não lhes garantem qualquer segurança jurídica, um salário ou férias pagas, por exemplo.

Assim, um jovem com idade entre os 15 e os 24 anos, do sexo feminino e residente em Luanda, é o perfil da maioria dos desempregados do País no final do IV trimestre de 2023, de acordo com o Inquérito sobre o Emprego e o Desemprego do INE.

A contínua alta de desemprego no País tem convivido com ciclos de alta inflação, que resulta, essencialmente, da desvalorização da moeda nacional e da fraca produção interna de bens de consumo. Pelo que tem sido impossível quebrar ciclos de pobreza da população, até porque os salários não têm sido actualizados consoante a inflação, pelo que ano após ano o poder de compra está continuamente em queda.

Fonte: Jornal Expansão

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