Segundo a Bain & Company, o mercado global de luxo movimentou 1,48 trilhões de euros em 2024, com destaque para o crescimento da América Latina. E mesmo após uma leve queda no Knight Frank Luxury Investment Index, alguns itens como Carteiras Hermès (+2,8%) e relógios Rolex ou Patek Philippe (+125% em 10 anos), Breiling, Omega e Cartier continuam a valorizar já os Vinhos tiveram queda de 9,1% no ano (mas alta de 37% em 10 anos).
Já o S&P Global Luxury Index, que reúne as 80 maiores empresas do universo do luxo, apresenta alta de 23% nos últimos cinco anos. O retorno acumulado robusto no longo prazo, aliado ao interesse pelos objetos deixa muitos inclinados a investirem no segmento. Mas apesar do bom resultado dos índices, especialistas consultados pela Forbes apontam que, para pessoas com grandes patrimônios, esse tipo de investimento é quase “irrelevante” para uma estratégia mais ampla.
Comprar um relógio caro ou uma carteira de edição limitada pode até parecer um investimento, mas especialistas lembram: o verdadeiro valor do luxo está na exclusividade, não no retorno financeiro. Segundo analistas entrevistados pela revista Forbes, o mercado de artigos de luxo segue regras muito próprias, depende da procura, da raridade e da percepção de status de quem compra. Em muitos casos, o lucro é simbólico.
O item valoriza não por gerar rendimento, mas por representar distinção social. Isto explica por que marcas como Rolex, Hermès ou Ferrari continuam a crescer, mesmo em tempos de desaceleração económica global.
Ao contrário do que ocorre em diversas classes de ativos, não há um índice de referência para a precificação de uma bolsa ou de um vinho raro. Eles são ativos pouco convencionais. É a escassez e não a sua utilidade que o transforma em potencial reserva de valor. E à ela se somam elementos como a história, qualidade do produto e valor de mercado. “Em termos de portfólio, o impacto é irrisório. É um mercado movido por desejo, muito mais do que por retorno financeiro”, pondera Mariella Gontijo,
“Esses ativos têm pouca liquidez e são difíceis de precificar. É mais teoria do que prática”. Em síntese: a decisão de investimento está suportada mais em uma narrativa emocional do que em uma decisão técnica. Se há algo que une os apaixonados por esses itens, é o senso de pertencimento.
Freitas, do UBS, observa que, para muitos clientes, o investimento em luxo é uma forma de participar de comunidades exclusivas, compartilhando paixões ( por arte, carros antigos, vinhos raros) e conexão por meio das experiências. O retorno não é financeiro, é simbólico e imensurável.
Ainda assim, os especialistas ouvidos pela Forbes alertam: o luxo é “um investimento emocional”.
“Muitos clientes chegam com vontade de investir em luxo, e a primeira coisa que fazemos é mostrar que é preciso responsabilidade. É importante entender que não é um ativo líquido, e que o ganho, se vier, é um bônus”, afirma Gontijo.
O avanço do mercado second-hand, com a revenda de itens de luxo, transformou a relação entre consumo e investimento. Peças que antes eram apenas de uso pessoal hoje têm preço de mercado. O movimento não só deu liquidez maior aos ativos, mas também criou um comparativo melhor para o preço de mercado dos itens. Gontijo observa que essa nova dinâmica também se apoia em valores contemporâneos, com as gerações mais jovens atentas aos impactos ambientais do consumo.
No fim do dia, a visão dos especialistas aponta que investir em luxo é também investir em narrativas e em estilo de vida. Um investimento que está menos no balanço patrimonial e mais na biografia de quem o faz. Pode gerar status e experiências exclusivas, mas dificilmente substitui um investimento seguro ou produtivo.
Para o investidor comum, o recado é direto: o luxo é mais emocional do que racional. Antes de gastar milhares de euros em algo “exclusivo”, é essencial garantir uma base financeira sólida, com poupanças, investimentos reais e segurança de rendimentos. O luxo, afinal, pode ser prazer mas dificilmente será estratégia de investimentos.
Para quem vive num contexto económico instável, como muitos angolanos, esta notícia é um lembrete importante: o luxo não substitui investimentos sólidos. Comprar uma peça rara pode ser prazeroso, mas não deve ser confundido com estratégia financeira.