Um estudo realizado para mapear o empreendedorismo aponta a população que se considera empreendedora “early-stage” (estágio inicial) em Angola, no período 2020/2021, ronda aos 50%, a maior de 47 economias analisadas, 5 das quais africanas.
A pesquisa, considera vários critérios e indica que o número de empreendedores em Angola tem crescido de ano para ano. O relatório refere que a intenção de iniciar um negócio (estimada em 83%) continua a ser mais elevada entre a população angolana do que em qualquer outra dos países analisados pelo Global Entrepreneurship Monitor, GEM Angola (GEM 2020/2021 Global Report).
O estudo realça ainda que a actividade empreendedora na faixa etária mais jovem (18-24 anos) tem registado o maior crescimento: foi a faixa etária com a menor taxa de actividade em 2014 (15%) e quase maior em 2020 (54%), com a diferença de apenas um ponto percentual relativamente à faixa etária dos 25-34 anos (55%).
Falando na sessão de Apresentação do Estudo Global Entrepreneurship Monitor, GEM Angola, o presidente da Comissão Executiva do banco BFA, Luís Roberto Gonçalves, realçou a importância do estudo, considerando relevantes para a actividade empreendedora em Angola, que acaba por ter muitas referências sobre o que acontece no mundo.
Destacou que o estudo mostra o estado do empreendedorismo em Angola num período de desafios face ao impacto da Covid-19. Considerou que o desenvolvimento da actividade empreendedora em Angola assume um papel crucial, uma vez que promove a actividade que gera oportunidades de emprego, sendo igualmente uma alavanca para o desenvolvimento sustentável do país.
Na sua visão, o empreendedorismo pode ajudar a criar um ambiente de negócio favorável e uma economia diversificada. Já o director do Centro de Estudos e Investigação da Universidade Católica de Angola (CEIC), Alves da Rocha, considerou fundamental a adopção em Angola de um modelo de desenvolvimento económico sustentável com base na educação, para permitir o desenvolvimento e o progresso.
Explicou que a educação relaciona-se com tudo que se passa na economia, aumentando a produtividade, diversificação, competitividade, abarcando as várias áreas da sociedade.
A pesquisa foi realizada pela Sociedade Portuguesa de Inovação (SPI) – uma empresa de consultoria, criada em 1996, em parceria com o Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola (CEIC-UCAN) e o Banco de Fomento de Angola.
Envolveu a sondagem a dois mil indivíduos de 10 províncias, auscultação a 37 especialistas nacionais que avaliam 11 condições estruturais.
Entre os países constam Estados Unidos da América, Alemanha, Brasil, Togo, Burkina Faso, entre outros, que ultrapassam Angola nalguns critérios analisados, como o período de sobrevivência de um negócio, que, no país, em cada cinco a quatro não sobrevivem.
O GEM reúne informações recolhidas ao longo dos últimos 22 anos, tendo analisado, neste período, mais de 120 economias, contando com a colaboração de mais de 500 especialistas, bem como a contribuição de mais de 300 institutos de investigação e 200 mil entrevistas.
A actividade empreendedora em Angola depende largamente do impulso individual dos empreendedores, assente em intenções individuais e atitudes próprias da cultura angolana, e não tanto no (pouco) apoio estatal que lhe é dado.
Angola está no último lugar das condições estruturais para empreender entre 43 economias que constam no relatório do Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2020/2021, que analisa as condicionantes do contexto, sejam de ordem social, política ou económica, que definem o percurso da actividade empreendedora e dos empreendedores. De acordo com o relatório, 37 especialistas angolanos atribuíram, à semelhança do que acontece nos outros 42 países, uma classificação de 0 (totalmente insuficiente) a 10 (totalmente suficiente) às Condições Estruturais do Empreendedorismo (CEE) no país.
Nesta análise constam a atribuição de classificação a parâmetros como o acesso a financiamento, as políticas governamentais, educação e formação, transferência de investigação e desenvolvimento, abertura do mercado, infra-estruturas, normas sociais e culturais, a reactividade e reinvenção do empreendedorismo e o impacto da Covid-19 nas políticas governamentais. Na classificação final, Angola está na última posição dos 43 países, com uma classificação de 3,3 em 10 possíveis o que, segundo o relatório, “valoriza o esforço do empreendedor angolano”, que é o mais empreendedor do estudo, mas que o faz num ambiente de negócios tão adverso.
Os dados de 2020 mostram que as condições mais favoráveis ao empreendedorismo em Angola são a reactividade e reinvenção do empreendedorismo, as normas sociais e culturais, e a abertura do mercado. Como condições intermédias, que não condicionam tão marcadamente o empreendedorismo, nem positivamente, nem negativamente, aparecem a infra-estrutura comercial e de serviços, o impacto da Covid-19 nas políticas governamentais, o financiamento, as infra-estruturas físicas, e as políticas governamentais. Já as condições menos favoráveis ao empreendedorismo são a transferência de I&D, a educação e formação, e as políticas governamentais.
Aliás, em relação à transferência de investigação e desenvolvimento (I&D) tem havido um retrocesso face a 2014, um sinal claro de que o acesso a I&D, produzida nomeadamente nas universidades e nos institutos de investigação, não tem sido um importante factor para o desenvolvimento de novos negócios e de negócios já existentes, ao contrário do que acontece lá fora.
Já a segunda condição cuja classificação mais decresceu foi a relacionada com programas governamentais. Da apreciação dos especialistas conclui-se que faz falta uma agência única que ajude as empresas a acederem a informação sobre apoios governamentais (a pontuação neste indicador é 2,9), embora se notem melhorias no indicador que avalia se o acesso a programas governamentais é facilitado independentemente do perfil socioeconómico da pessoa que procura informações.
Desta forma, o estudo conclui que, actualmente, “a actividade empreendedora em Angola depende largamente do impulso individual dos empreendedores, assente maioritariamente em intenções individuais e atitudes próprias da cultura angolana, e não tanto no (pouco) apoio estatal que lhe é dado. É ainda importante registar, com base nos dados analisados na primeira parte desta secção, que este aspecto tem vindo a acentuar-se desde 2014”.
Fonte: Angop e Jornal Expansão