A infância é uma fase de descobertas, aprendizagem, influências e molde do futuro adulto. No mundo digital, o desejo de consumir produtos, novidades, serviços, brinquedos e experiências tem surgido cada vez mais cedo, muito influenciado pelas cores das embalagens, os anúncios animados, publicidade especifica para crianças, pressão dos colegas na escola, consumo de conteúdo e até pelo exemplo dos pais ou familiares de referência.
Quem tem filhos sabe, basta passar por um supermercado ou ligar a televisão para ouvir o famoso “eu quero, pai/ mãe podem comprar?”, ou então uma verdadeira birra, dependendo da idade.
Mas será que estamos a ensinar as nossas crianças e adolescentes a pensarem antes de gastar ou desejar?
O consumo consciente não significa dizer “não” a tudo. Significa, sim, ensinar os mais pequenos a fazer escolhas melhores, entender o valor do que têm e perceber que nem tudo o que queremos é uma necessidade. Esta aprendizagem, se começar cedo, pode evitar muitos problemas no futuro, desde o hábito de comprar por impulso até dívidas desnecessárias na vida adulta.
A boa notícia é que não é preciso esperar que o seu filho cresça para começar, pode incluir lições financeiras na rotina de forma simples: por exemplo, envolver a criança nas decisões no super mercado (“Vamos levar este iogurte ou aquele que está mais barato?”), explicar porque é que não se compra brinquedos todos os dias, ou até criar um sistema de mesada ou semanada para ela gerir.
Outra dica importante é reduzir o tempo de exposição à televisão e ao telemóvel, pois muitos comportamentos consumistas vêm dos anúncios, dos mini influencers com canais de Youtube que abrem brinquedos novos todos os dias, esbanjam dinheiro em concursos, experimentam roupa e maquilhagem nova todas os dias e muitos outros comportamentos que não são os melhores para uma vida financeira controlada.
Temos que estar conscientes que no meio digital a publicidade aparece cada vez mais misturada a conteúdos de entretenimento e perante esta que é a nova realidade do entretenimento das crianças e jovens, não podemos fugir e simplesmente substituir todo tempo on-line por atividades mais criativas e gratuitas como jogos de tabuleiro, desporto, desenhos animados ou idas ao parque, devemos também aproveitar o momento para educar e questionar. Claro que sem aquelas lições de moral que nós pais bem gostamos!
Inclua perguntas simples no meio de um momento em que o seu filho assiste a um desses vídeos. Por ex: Não achas que o Mr. Beast oferece dinheiro a mais? Não achas que a Maria Clara tem muitos vernizes? Eu só preciso de 1 ou 2! E espere para ouvir a opinião do seu filho ou filha e construam uma pequena conversa a partir daí, evolua para outros temas como cores preferidas, reciclagem, valor do trabalho e outras, mas sempre de uma maneira mais “soft” e constante.
Mais do que ensinar a poupar, estamos a formar cidadãos conscientes, que pensam no impacto das suas decisões, no bolso e no mundo.
Muitas crianças e jovens afectados pelo consumismo param de usar a imaginação e os artigos (produtos ou brinquedos) que já têm e acreditam que só é possível divertir-se ou “ser fixe” tendo sempre coisas novas para mostrar ou ao gastar cada vez mais dinheiro dos pais. Também é importante pensar, qual tem sido a sua contribuição para o consumismo dos seus filhos? Avalie o seu comportamento, muitas vezes as crianças replicam os comportamentos a que estão expostas diariamente!
Ninguém nasce consumista, muito pelo contrário. O consumismo é uma ideologia, um comportamento que pode ser construído desde muito cedo e infelizmente é uma das características culturais mais marcantes do mundo actual.